Vi um cego hoje.
Cauteloso, preocupado, catucando, pisando, seguindo.
Primeiro achei que era um com uma bengala barulhenta, depois vi a mulher, atrás dele, atenta, ouvinte, cega.
Vi dois cegos hoje.
Vi dois cegos que ninguém mais viu, em fila indiana, na rua, no calçadão, desbravando, encorajando, vencendo.
Vi um casal cego hoje.
Vi um homem guiar sua mulher, vi parceiros indo por não sabem por onde, mas sabem aonde querem ir.
Vi a vida cega hoje.
Me vi hoje no calçadão, cego, sem saber pra onde, só o fim.
Me vi guiando e sendo guiado, me vi feliz por conseguir ir, mesmo com medo.
Me enxerguei cego e o medo diminuiu, não sumiu, aceitei minha deficiência em não ter certeza do caminho.
Sigo cego, desviando e desviado, cauteloso e preocupado, mas sigo, sei onde vou chegar e por acreditar nisso vou.
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