quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O inverno e o sol

Hoje cedo o sol estava encoberto por uma nuvem, a nuvem era fina e funcionava como um filtro, um lenço tentando esconder, sem sucesso algum, o sol atras de si. A cena era linda, o sol se impondo ao inverno, deixando que ele aconteça, mas mantendo o calor na alma.
Pensei em você, por mais clichê e démodé que isso possa parecer.
Minha alma estava no inverno, a procura de calor, de carinho. Surge você, alimentando-a, me dando seu calor, me lembrando que sempre haverá uma outra estação.
E o inverno foi embora de mim.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

De madrugada

São cinco, do sol nem sinal.  O ponteiro maior marca 110km/h, o do lado 5.000rpm, nem nas curvas eles descem, certos pontos aumentam. O vento, uivante, instiga, implora ao pé direito mais diversão.
Na curva ele vê o monstro, um céu já avermelhado completa o cenário, distorcido o metal é mais metálico, cortante. O monstro espera no canteiro central, nota-se sangue no seu corpo branco, o chão rasgado, a árvore derrubada e o preto óleo indicam por onde ele passou. Dor e tristeza o monstro transmite, destruição e morte são o que ele levou.
O coração aperta, sabe que o sangue do outro ser poderia ser o dele, num estalo a vida vem a tona e o questionamento das suas atitudes explodem no parabrisas como num cinema, cego por um infímo espaço de tempo vê o primeiro raio de sol surgir no horizonte, sabe que poderia ser ele, sabe que assim vai ser ele. O mostro era um dia, outro como ele.
O fantasma metálico do carro capotado fez lembrar que o freio é o pedal do meio e nessa hora, até o vento calou.

Empregos de eleição

Outra manhã e lá ela está. A pobre velha senhora, com dois pequenos, não sei dizer se são diretamente seus ou se são filhos dos filhos, sei que lá ela está, sentada à sombra da placa que protege, as crianças de sexos opostos ainda dormem, brincarão no verde gramado do canteiro, assim como ontem, pra desespero dos transeuntes e para aumentar a impaciência da senhora, que não se desespera, se irrita e imagina o trabalho que será dado caso um dos automóveis os pega no pega-pega.
A senhora realiza essa mesma rotina, de um mês pra cá, todos os dias; acorda cedo, pega as crianças e parte pra rua, não para pedir dinheiro, como já fizera, abusando dos olhos pidões de duas crianças com fome, hoje a velha tem emprego, temporário emprego de proteger a placa das mazelas da rua. Abandonada a placa sofre, vaga pelos cantos, atravessa a rua correndo, se joga aos pneus dos carros, se suja, ou pior, se parte, isso mataria a pobre de tristeza, a faria chorar como num funeral, perderia o emprego e nunca lhe confiariam outra placa, sua função era evitar tais transtornos. O melhor é cuidar dessa como se deve.
Ao meio dia o sol castiga, maltrata como astro poderoso que é, senhor desse sistema se faz presente pela força e energia.
A placa, reluzente, sorri, promete o mundo e o universo, dá aos pobres e bate no burguês. A pobre velha senhora diz acreditar no sorriso de seu contratante, na placa, os brancos dentes, a limpa roupa e a linda pele não tentam esconder, esse não é do povo, por isso merece o voto da pobre senhora, afinal deu a ela o emprego que precisava, 10 reais por dia. Ganha hoje mais do que ganhava como pedinte, a concorrência era muito cruel, as crianças não tem doença, riem o dia todo, assim complica na hora de castigar o coração e o bolso alheio, um bebê quieto era de mais valia, mas só tinha aqueles dois. Melhor coisa que lhe aconteceu foi a placa, que não tem fome, a protege do sol, alimenta o estomago  e lhe dá emprego temporário. Pena que só a cada dois anos tem eleição, mas torceremos pelo segundo turno dessa então...  

sábado, 2 de abril de 2011

Ex-amantes

Já não sou mais seu confidente. É como se todos os segredos antes confiados fossem hoje armas de uma guerra fria entre corações. Não sabe ela que o que mais quero  é ter de novo o posto outrora ocupado.

Outro

Confiança se conquista, não há hereditariedade ou direito.
Um casal não começa confiando um no outro cegamente, tempo e experiências do convívio cria as confidências, revelam-se os segredos, nos abrimos, nos entregamos, deixamos ir o corpo, a alma, o coração, damos a vida porque confiamos.  Sabemos e acreditamos nesse tão sério compromisso, sem contratos, clausulas ou verificações.
O ser não confiável é mais pobre do que aquele que não ama, o sem amor todos sabem, não ama, sabemos e esperamos por isso, uma vez que se aprende. Diabo é o não confiável, quase que ardiloso, nunca sabemos o que esperar, qual das inúmeras respostas dar e pior é não saber por quão tempo estará segura a mais tola das informações nas mãos de tão vil criatura.
Num casal se um não confia, a ponte, a ligação entre eles é seriamente afetada, pode até ruir e levar consigo a relação, não importando o tempo e a rigidez da ponte, afinal se a mesma não leva a lugar algum tem mesmo que ser destruída, por desuso , desgaste das mares, deixa de ser ponte, vira píer sem fundamento que um dia encontra a água e some.
Não se luta por confiança, não se debate por ela, esta além de apenas acreditar no outro, passa pelo sentir, se fixa no coração, na barriga, na respiração e enfim se solta no ar, se deixa levar como pluma no vento, sem medo do chão, acreditando que alcançará o infinito. É pura conquista.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Um cego que vi

Vi um cego hoje.
Cauteloso, preocupado, catucando, pisando, seguindo.
Primeiro achei que era um com uma bengala barulhenta, depois vi a mulher, atrás dele, atenta, ouvinte, cega.
Vi dois cegos hoje.
Vi dois cegos que ninguém mais viu, em fila indiana, na rua, no calçadão, desbravando, encorajando, vencendo.
Vi um casal cego hoje.
Vi um homem guiar sua mulher, vi parceiros indo por não sabem por onde, mas sabem aonde querem ir.
Vi a vida cega hoje.
Me vi hoje no calçadão, cego, sem saber pra onde, só o fim.
Me vi guiando e sendo guiado, me vi feliz por conseguir ir, mesmo com medo.
Me enxerguei cego e o medo diminuiu, não sumiu, aceitei minha deficiência em não ter certeza do caminho.
Sigo cego, desviando e desviado,  cauteloso e preocupado, mas sigo, sei onde vou chegar e por acreditar nisso vou.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A vida é doce

Por que temos que tomar tantas decisões, por que o outro tem que ser tão complicado, por que os sentimentos são tão fugazes, por que essa sensação de queda já que o que eu queria era voar com você?
A vida é doce e depressa demais.
Vou viver minha vida, deixar você viver a sua, parar de brincar com as conchas quando todo um mar está a nossa frente. Decidi entrar n'água sem você, não por abandona-la, mas sabendo que assim você entrará. Não te encontrarei mais, te perdi para um outra correnteza, a natureza quis assim.
Não guardo raiva, não tenho rancor, só queria de você a coragem de fazer o que tem que ser feito, de entrar n'água, de ser levada, você segurou minha mão na areia, não fui eu quem impediu.
A vida é doce, mas amarga quando não vivida.